segunda-feira, 11 de abril de 2011

A ameaça silenciosa da intolerância



Nas últimas semanas acompanhamos as polêmicas que envolveram o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ),ocasião em que o parlamentar declara explicitamente seu preconceito contra  os negros e homossexuais,declarando ainda sua simpatia ao regime militar ,lamentando que o “erro” do regime se deu quando apenas torturou ao invés de assassinar seus opositores.

  As declarações causaram espanto e polêmica na mídia,contudo devemos atentar que o episódio não deve ser encarado como fenômeno pontual ,isolado ou apenas uma opinião radical visando os holofotes da imprensa a da opinião pública. O fato é que Bolsonaro apenas teve a coragem de dar voz ao que parte da sociedade brasileira  pensa,sente, mas não tem coragem de expor seu preconceito,muitas vezes nem a si mesmo,seria interessante questionarmos onde as pessoas escondem seus preconceitos ?

 Nesse sentido,creio que estejamos diante de uma ameaça preocupante,o preconceito velado e silencioso. Uma vez que na sociedade moderna que triunfou a declaração dos direitos humanos é bonito aos olhos dos outros o discurso “politicamente correto” ,a frase clichê : “não tenho preconceito algum”,que virou lugar comum á todos,mas que muitas vezes esconde seus meandros e sentidos reais. Esse episódio reflete a intolerância e a não aceitação do outro em nossa sociedade,um preconceito reprimido,anônimo e arraigado em nossa cultura que não suporta o “diferente” ,assim na sociedade competitiva e individualista não se tolera o sujeito que é diferente á maioria (ao que possui a cor diferente da nossa,a condição sexual,a etnia ou classe social).O  preconceito aos nordestinos na última eleição é exemplo notório,situação em que um grande número de jovens pregou publicamente o ódio aos nordestinos,os responsabilizando pelo resultado das eleições : “mate um nordestino e faça um Brasil melhor”, foi um dos posts que fizeram sucesso no twitter,ganhando muita adesão dos nossos jovens.

  Frases desse tipo denotam um tipo de preconceito diferente e talvez mais ameaçador que o convencional,o preconceito silencioso e velado ,que funciona como uma espécie de vulcão adormecido,aguardando apenas que um sujeito ou fenômeno o desperte. Podemos relacionar essa ilustração metafórica á uma sociedade que comporta elementos muito próximos ao nazi-fascismo em suas entranhas mais intímas,mas que é vivo e intenso como uma doença adormecida. Elementos anônimos e reprimidos por uma sociedade que se diz justa e igualitária. Seria este cenário mera semelhança com a da Alemanha nazista que se inflama após o surgimento de uma liderança raivosa que lhes dá identidade e orgulho de seus ideais apaixonados pela barbárie frente outros seres humanos ?

  E o mais impressionante é que estamos falando da sociedade brasileira,caracterizada comumente pela mistura e pela convivência “pacífica e harmônica da diferença”, a chamada “Democracia Racial” que mantém os negros ainda em condições desiguais na ascensão social,ou mesmo na terra do “Homem Cordial” receptivo,pacato e generoso por natureza,cordialismo esse em que jovens de classe média ateiam fogo num índio indefeso dormindo na calçada,ou que nos coloca num dos países com maior numero de casos de Bullying.  Sim,nossa sociedade,que  cria assassinos raivosos em escolas,assassino que também já foi vítima do Bullying,violência que é devolvida com intensidade á mesma sociedade que o agrediu simbolicamente.

   A verdade é figuras como Bolsonaro dão voz e identidade e orgulho á uma parte da sociedade brasileira colocando o dedo na ferida de nossa identidade nacional, identidade por sinal totalmente contrária ás aspirações democráticas,mas que paradoxalmente usa a democracia como meio de transmissão de seus conteúdos racistas,homofóbicos e autoritários. Enquanto elegermos políticos dessa linhagem estaremos longe de uma sociedade pluralista,igualitária e democrática.



                                              




2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. E o prezado colega menos ainda.
    Não defendendo o regime, mas apenas falando de história.
    O Afrikan Korps, uma das mais bem organizadas divisões do exército nazista, possuía negros.
    Se regimes comunistas fossem tão bons, as pessoas não fugiam dos países que adotaram tal regime.

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